Vila Isabel fecha 2025 como quem acende a rua
Canto alto, evolução solta e a sensação de que 2026 já começou no Boulevard
A última noite de ensaio de rua de 2025 da Vila Isabel teve cara de despedida e corpo de anúncio. No Boulevard 28 de Setembro, a escola encerrou o ciclo com uma comunidade que cantou do primeiro ao último verso como quem sustenta uma promessa, e com uma evolução leve, feliz, daquelas que não pedem licença para contagiar. Era treino, sim, mas era também afirmação: a Vila está cada vez mais à vontade com o que defende.
A condução no carro de som mostrou mão segura e coração aberto. Tinga puxou o samba com uma energia que “abre” o canto da escola e faz a resposta vir de volta em onda, como se cada ala cantasse para a outra, e não apenas para a rua. Na frente, a Swingueira de Noel, comandada por mestre Macaco Branco, foi a base que dá chão e dá impulso, com leitura precisa e um desenho rítmico que levanta a obra sem atropelar o canto.
A comissão de frente apareceu com uma proposta de complexidade bem desenhada, investindo em espelhamentos, trocas de posição e reorganizações constantes, numa linguagem que conversa com o novo olhar do julgamento. Há momentos em que a coreografia se apoia na musicalidade do samba para marcar referências e criar leitura, mas o desafio que fica é o mesmo dos trabalhos ambiciosos: fazer a dramaturgia saltar com nitidez para quem assiste. No pavilhão, Raphael Rodrigues e Dandara Ventapane passaram segurança e pertencimento, com bailado tradicional, alternâncias bem resolvidas e uma sintonia que parece crescer a cada entrada na pista.
E quando a Vila evolui, não é só a escola que anda: a rua vai junto. O público acompanha pelas calçadas, canta, se desloca, forma um rastro vivo que amplia o impacto do ensaio. Até nos pontos em que o físico cobra — como em alas coreografadas que exigem muito do corpo — o canto se mantém firme, sem deixar o conjunto cair. A temporada fecha com sinais claros de crescimento, entrosamento e confiança, e com a certeza de que a escola volta em janeiro com uma base quente, pronta para transformar preparação em desfile.

