22 de dezembro de 2025
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Duas potências, um só terreiro: Mirandela em estado de samba

Beija-Flor e Viradouro transformam o Encontro de Quilombos em noite de excelência, união e arrepio

A Estrada da Mirandela viveu uma daquelas noites que parecem maiores do que a própria agenda do Carnaval. O Encontro de Quilombos ganhou contorno histórico quando a Beija-Flor, em casa, recebeu a Viradouro e fez da rua um terreiro de respeito mútuo, técnica alta e emoção derramada no canto. Havia um clima de celebração que não cabia em rivalidade: era encontro de comunidades fortes, de escolas que se reconhecem no tamanho da própria responsabilidade.

O que se viu foi um desfile de sinais claros de grande temporada. Sambas com corpo, com refrão que abraça, com estrada para crescer sem perder a identidade. O canto veio como rolo compressor, daqueles que empurram a escola inteira para a frente e fazem o público entender, na primeira passada, que ali existe joia bem lapidada. A Beija-Flor tratou o seu primeiro treino de rua para 2026 como coisa séria, com desenvoltura na evolução e um entendimento coletivo de onde se pisa e por que se pisa.

Do lado vermelho e branco, a Viradouro entrou com a firmeza de quem já sabe o próprio padrão e não abre mão dele. O discurso de bastidor é de ajuste fino, de reta final, de escola muito avançada na preparação, mas a pista mostrou algo ainda mais revelador: uma comunidade que canta com convicção e um desenho de apresentação que se sustenta na rua, sem depender de efeitos. Foi encontro, mas também foi termômetro, e as duas escolas saíram dali maiores do que entraram.

E quando o ritmo tomou conta, ficou impossível não reconhecer: as duas baterias vivem momento de potência. Segurança, tempero, paradinhas no tempo certo, e principalmente uma condução que favorece o canto, que deixa a comunidade respirar e crescer. Na Mirandela, ritmo não foi disputa. Foi linguagem compartilhada, como se cada escola dissesse à outra, sem palavras, que a excelência é uma forma de respeito.

A noite ainda trouxe imagens que ficam: comissões de frente alinhadas aos seus universos, cada uma com seu vocabulário, seu foco, sua intenção. A Viradouro apostou em proposta diretamente ligada à trajetória celebrada, com valorização do samba individual e leitura clara do conjunto. A Beija-Flor trouxe gestualidades afro e uma narrativa conduzida por presença feminina central, numa construção que prefere firmeza e consistência a impacto vazio. E no final, o que restou foi a verdade mais bonita: quem ganhou foi o samba.