Quando o arco risca o samba: Salgueiro traz violino para ressuscitar o universo de Rosa

Nas alamedas da memória, onde cada tamborim já contou histórias de ruas, casarões e sonhos, o Salgueiro ousa reinventar a trilha: desta vez, com violino ao lado dos surdos. A proposta mergulha fundo na estética barroca, nos respiros eruditos, nas camadas de cor e drama que tornaram os carnavais da Rosa Magalhães tão inesquecíveis. Não é apenas um instrumento: é o fio que liga essa nova leitura ao passado — para que o desfile de 2026 não seja só um desfile, mas um livro aberto de referências, teatralidade e emoção.

Quando as cordas do violino surgem entre o cavaquinho, o violão e o peito da bateria “Furiosa”, a sensação é de estar abrindo a biblioteca da Rosa — cada nota é uma página, cada arco, um traço de tinta sobre um enredo que sempre vive. Nesse encontro, o samba não perde sua ginga; ao contrário — ganha profundidade, ganha sombra, ganha dimensão de lembrança viva. E o Salgueiro convoca o sambista e o melómano, o sonâmbulo e o dedicado, a escutar o samba com outros ouvidos, com o coração pulsando entre notas e surdos.