Baródromo em transe de samba: Maricá faz a festa e a noite vira história
Império Serrano e União da Ilha se encontram com a jovem potência que quer se consagrar no grupo
Há domingos em que o Rio se lembra de si mesmo. No Baródromo, na Tijuca, a União de Maricá transformou a noite em uma ode à boemia carioca e, sobretudo, ao samba como ponto de encontro. Uma escola ainda jovem, fundada em 2015 e acostumada a construir caminho com fome e método, decidiu fincar bandeira na capital: mostrar potência, aproximar territórios e celebrar sem a obsessão da disputa. O projeto nasceu com nome de promessa e cara de realidade, “Maricá faz a festa”, e o que se viu foi exatamente isso: festa com sentido, com pertencimento e com uma energia que não cabe apenas no microfone.
A anfitriã recebeu dois pilares do Carnaval como quem não pede licença para existir. Império Serrano e União da Ilha chegaram com a grandeza que carregam, mas também com o gesto bonito de quem respeita e reconhece o movimento da coirmã. E aí o Baródromo virou terreiro: cerveja gelada, família, gente de todo canto, canto atravessando o espaço como se a rua inteira fosse uma só quadra. A sensação não era de “evento”, era de encontro — daqueles em que tradição e futuro sentam na mesma mesa e o samba circula no centro.
O Império foi o primeiro a se apresentar, e sua comunidade veio em peso, com a força verde e branca que não precisa de explicação. Havia ali, também, um clima de superação no ar, como se cada verso cantado carregasse o desejo de reerguer a escola com a dignidade de quem sabe o tamanho da própria história. E quando a Ilha entrou, a noite ganhou outra cor: uma sequência de clássicos que acende memória coletiva e faz qualquer roda virar coro, como se o passado e o presente se abraçassem no mesmo refrão.
Maricá, por sua vez, não ficou pequena diante de pavilhões mais antigos. Pelo contrário: mostrou comunidade cantando forte, paradinhas que provocam reação imediata e uma alegria que contamina. O Baródromo cantou junto, não só o samba do ano que vem, mas sambas de temporadas recentes e até o hino da escola, como se estivesse dizendo em voz alta que aquela identidade já está sendo aprendida e compartilhada. Na condução, há um simbolismo especial: um intérprete experiente em seu primeiro ano à frente do carro de som maricaense, reconhecendo o peso das tradições que estavam ali e transformando esse peso em combustível de aprendizado.
No fim, o que ficou foi uma imagem preciosa: a confraternização como termômetro e como manifesto. Um lugar onde ninguém precisou competir para impressionar, porque o que impressionou foi a soma. Maricá quer se consagrar, Império quer mostrar seu cartão de visita, a Ilha mira alto, e o Baródromo, naquele domingo, foi mais do que palco: foi prova de que o samba segue sendo uma tecnologia afetiva capaz de reunir gerações, histórias e sonhos em um só compasso.

