Bira Presidente morre aos 88 anos e deixa legado profundo no samba
O músico, compositor e líder do bloco Cacique de Ramos falece enquanto consolida a história do samba-raiz como símbolo de resistência e inovação
O samba amanheceu mais silencioso neste domingo ao informar a partida de Bira Presidente, ícone da cultura popular e um dos principais arquitetos do que viria a ser o pagode carioca. Aos 88 anos, Ubirajara Félix do Nascimento partiu após longa batalha contra o câncer de próstata e o Alzheimer, deixando um vazio imenso no coração do subúrbio e na batida do pandeiro.
Ele não foi apenas fundador do Cacique de Ramos — aliás, figura lendária na construção do bloco que se tornou muito mais que folia: tornou-se centro cultural, laboratório de arte e resistência. Também participou decisivamente da gênese do grupo Fundo de Quintal, que redefiniu o som da samba-caixa e estabeleceu novos padrões para o ritmo. Em cada roda de samba, em cada esquina de Ramos e nas memórias de tantas gerações, Bira deixou sua assinatura: elegância,criação e pertencimento.
A comunhão entre sua história e a do samba percorre décadas de ensaios, tambores, festas nas quadras e renovações criativas. Sob seu olhar, o bloco virou palco de jovens autores, o pandeiro se tornou instrumento de identidade e o samba de raiz ganhou corpo nacional. Sua passagem não se reduz aos palcos: ecoa na alma dos que sambam até hoje, que dançam com os pés no chão e o coração no compasso da liberdade.
Bira Presidente deixa duas filhas, netos e bisneta — herdeiros imediatos de sua vida, mas milhões de sambistas espalhados pelo país herdam seu legado. Em velório, abraços, violões e tambores se misturam em canto, porque saudade não sai de cadência, sai de batida. Que seu toque siga firme no ar, porque o samba, como ele disse muitas vezes, “tem que continuar”.

