“Jeito Tucuju”: Mangueira invade a rua com força, canto e alma
Quando a noite desceu sobre a Rua Visconde de Niterói, a Mangueira transformou o asfalto em pulso — o pulso de uma gente que vai cantar longe, pra além da Sapucaí. Sob o comando de Dowglas Diniz, o samba-enredo soou firme, grave, atravessando o ar e acordando a comunidade: “Sou gira, batuque e dançadeira” parecia mais que canto — era grito, era convocação. O novo enredo, “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, gestado por Sidnei França, enchia o peito de verde e rosa, e a bateria de Taranta Neto e Rodrigo Explosão retumbava com força ancestral: o tambor parecia ecoar troncos e raízes, suspirar matas, puxar marés — como se o Mangue se abrisse em festa no coração da cidade.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Cintya Santos, guiou a cabeça da escola com leveza e presença, marcando giros e bandeira como quem planta bandeira no peito — com reverência e orgulho. A comissão de frente coreografada por Karina Dias e Lucas Maciel trouxe a ancestralidade à rua: gestos fluidos, simbólicos, que pareciam invocações de memória e força, convocando o passado e o futuro num só presente.
Quando as alas passaram, o canto se entrosou com os corações. A Mangueira não desfilava: respirava. A comunidade se entregava, a rua cantava junto, a noite virou verde-e-rosa de corpo e espírito. Ali, naquele ensaio, não se ensaiava apenas um desfile — se afagava um legado, se reacendia a alma de quem sabe que samba é herança, é vida, é luta de pé no chão.

